A Mulher e o Mundo do Trabalho

A Reestruturação Produtiva do Capital ataca de maneira cruel a classe trabalhadora, que tem seus direitos trabalhistas, cada vez mais usurpados e as relações de trabalho precarizadas.
É importante deixar claro que a terceirização é entendida como uma forma de precarização do trabalho, que afeta a classe trabalhadora com a perda constante dos direitos conquistados, das garantias trabalhistas e, além de tudo, fragmenta a classe trabalhadora.
A terceirização possibilitou às empresas o aumento da lucratividade e a fragilização das ações sindicais com a desmobilização dos trabalhadores e trabalhadoras para reivindicações e/ou greves, redução do quadro direto de empregados, colocando uma nova forma de se expressar a relação capital-trabalho.
A captura da subjetividade das trabalhadoras e trabalhadores no ambiente de trabalho, bem como o assédio moral, físico e psicológico, a flexibilização dos contratos, realização de horas-extras e criação do banco de horas, redução dos salários, são evidências concretas da precarização do mundo do trabalho.
MULHERES TRABALHANDO...

A feminização do trabalho, como apregoa o discurso burguês, seria uma forma de autonomia das mulheres, todavia, vemos que a inserção das mulheres no instável mercado de trabalho, está diretamente atrelada a extrema degradação e precarização das relações trabalhistas. Esse processo em conjunto, tem reflexos perversos sobre a qualidade de vida de toda a “família” trabalhadora, com a intensa desvinculação e perda de referenciais, sobretudo por parte dos filhos, à, assim chamada, “instituição família”, que perde a validade do significado (cristão e burguês) construído sobre as bases de uma sociedade patriarcal.
Vive-se um aumento significativo do trabalho feminino, que atinge mais de 40% da força de trabalho. É retratando esse cenário que as estatísticas constatam que a força de trabalho informal é feminina e, de modo hierarquizado a divisão sexual e racial do trabalho faz com que, dentro do mercado de trabalho o homem branco ganhe mais que a mulher branca, esta ganhe mais do que o homem negro, e, este ganhe mais do que a mulher negra.

Um outro aspecto fundamental da opressão e exploração da mulher é o trabalho doméstico. Ao contrário do que a sociedade propaga, o trabalho doméstico não é um problema da mulher: não é um problema individual, tampouco é um problema privado, que começa e termina no seio da família. O trabalho doméstico é um problema do sistema capitalista, uma vez que tem a ver com o processo de reprodução da força de trabalho. É no lar que essa reprodução se processa. Se o salário é o necessário para a sobrevivência dos trabalhadores e das trabalhadoras, ou seja, para a reprodução da força de trabalho, o trabalho doméstico deveria fazer parte desse cálculo, mas não o faz. O capitalista explora a separação entre o processo de produção de mercadorias e o processo de reprodução da força de trabalho para, dessa forma, incrementar a extração de mais-valia. A partir disso, se estrutura uma divisão do trabalho em que a mulher é responsável pelo âmbito privado – o trabalho realizado dentro de casa – e o homem pelo âmbito público – o trabalho fora de casa.
O trabalho realizado pelas mulheres foi se tornando um trabalho invisível, e essa é uma condição fundamental para garantir a manutenção do capitalismo e conseqüentemente de um sistema baseado em valores patriarcais, ou seja, na visão dos homens sobre as instituições. É essencial que esse trabalho seja invisibilizado, para se baratear o custo do trabalho. Nesse caso, o uso da força de trabalho feminina é um dos recursos para o capitalista expandir a extração de mais-valia.

Para tanto, o capital se utiliza para a reprodução social uma instituição específica: a família. Assim como a escola se encarrega da educação. A justiça das leis, o exército da repressão, a família se encarrega da reprodução social.
É preciso lembrar que o trabalho doméstico não é apenas a combinação de tarefas necessárias para a reprodução diária da força de trabalho, para satisfazer as necessidades físicas e psicológicas dos trabalhadores e das trabalhadoras. No âmbito da família busca-se a reconstrução de uma relação entre produção e reprodução que faça sentido para as pessoas. Espera-se que a relação alienada que estrutura o modo capitalista de produção, encontre no seio da família a sua superação; imprimi-se a família a missão de absorver os conflitos das relações de produção dominantes.
No entanto, o que ocorre é a reprodução dessas relações e até mesmo seu agravamento. O trabalho doméstico agrava o processo de alienação vivenciado pela mulher no mercado de trabalho e no conjunto das relações sociais. Além de embrutecê-la, porque toma-lhe o tempo ao aprimoramento intelectual e artístico, a participação política e social, a separa da produção material do conjunto da sociedade ou reserva-lhe um lugar subalterno.

A mulher trabalhadora, em geral, realiza sua atividade de trabalho dentro e fora de casa, ela é duplamente explorada pelo capital: o trabalho doméstico, consome horas decisivas com o que possibilita (ao mesmo capital) a sua reprodução, nessa esfera do trabalho não diretamente mercantil em que se criam as condições indispensáveis para a produção da força de trabalho de seus maridos, filhos (as) e de si própria. Caso a mulher não ficasse responsável por essa empreita, possivelmente a reprodução do capital estaria bastante comprometida, se não inviabilizada. Algumas conquistas sociais que obrigam o Estado a assumir uma série de obrigações antes reservadas ao lar, levam a considerá-las salário indireto.
A terceirização em sua maioria atinge as mulheres que além da exploração no trabalho, tem de enfrentar a dupla jornada que se constitui com o trabalho doméstico. O capitalismo tira a mulher de dentro de casa para trabalhar e se exime da responsabilidade das tarefas domésticas, deixando para as mesmas essas responsabilidade. Algumas são chefes-de-família e quase todas realizam as tarefas domésticas sem a ajuda de seus companheiros ou dos filhos, quando muito são as filhas que contribuem com as tarefas.

O descarte em que estão submetidas, devido ao exército de reserva de mão-de-obra, também é um empecilho para estimular a mobilização das terceirizadas. A descrição do perfil dessas mulheres, é importantes para avaliar de que maneira a reestruração produtiva do capital atingiu e atinge negativamente a classe trabalhadora e principalmente as mulheres.
O capitalismo intensificou ainda mais a opressão da mulher. Submetendo-a a condições de extrema exploração e precarização do trabalho. A opressão da mulher dimensiona e redefine as formas de exploração, tendo como alicerce o machismo e a desigualdade social.
A opressão é condição necessária para aprofundar as relações de submissão impostas pela união indissolúvel entre o patriarcado e o capitalismo. Portanto, a luta das mulheres por emancipação deve ser também a luta pelo fim do capitalismo.
Martha Esthela Silva
Priscila Souza

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